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O psicodiagnóstico é um processo com propósito clínico que visa à identificação das forças e fraquezas do funcionamento psicológico do sujeito que se submete a ele. Um de seus objetivos é identificar ou não a presença de alterações psicopatológicas, os limites da variabilidade normal. A psicometria surge na história do processo psicodiagnóstico como uma forma de garantir a cientificidade deste. Também foram muito importantes para o desenvolvimento do psicodiagnóstico os estudos de Kraepelin, com a classificação das doenças mentais, e de Freud, com sua compreensão dinâmica do funcionamento psíquico, ambos diferenciando estados neuróticos de psicóticos. Logo em seguida, surgem os testes projetivos, primeiro com Rorschach, depois com o TAT, em seguida com Szondi, MMPI, entre outros. Atualmente, há uma ênfase no uso de instrumentos mais objetivos, como WISC, WAIS e RAVEN e avaliações computadorizadas, que têm oferecido novas estratégias ao psicólogo que trabalha com psicodiagnóstico. No entanto, não bastam instrumentos modernos para realizar um bom psicodiagnóstico. De acordo com Jurema Cunha (2000), é importante que o psicólogo avalie quem é o público que procura este serviço e qual sua demanda, para não correr o risco de deixar de responder a solicitação inicial do cliente. Como é possível verificar, são muitos os aspectos a serem considerados antes de iniciar um psicodiagnóstico. Antes de fazermos algumas considerações sobre eles, vocês têm a seguir um exemplo de exercício sobre estas reflexões e considerações. Lembre-se, é importante que inicie lendo o capítulo 2 do livro de CUNHA, J A e cols. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre. Artmed. 2000., antes de tentar resolver os exercícios deste módulo..
As afirmações abaixo abordam alguns dos aspectos conceituais do processo psicodiagnóstico. Leia cada uma das afirmações, analise se são verdadeiras ou falsas e depois assinale, entre as alternativas apresentadas, a que está correta.
I) Avaliação psicológica corresponde ao uso de testes psicológicos.
II) Com a avaliação psicológica, pretende-se conhecer o perfil psicológico de uma pessoa para tomar decisões a seu respeito.
III) A avaliação científica difere da avaliação cotidiana, realizada em consultório, por utilizar técnicas diferentes, entre elas os testes.
IV) Avaliação psicológica é um processo de investigação, que utiliza teorias e técnicas psicológicas.
V) Psicólogos e pedagogos com especialização em psicopedagogia podem utilizar testes psicológicos
a) As afirmativas (I), (II) e (III) são verdadeiras.
b) As afirmativas (I), (III) e (V) são falsas.
c) As afirmativas (II), (III) e (IV) são verdadeiras.
d) As afirmativas (II), (IV) e (V) são falsas.
e) As afirmativas (III), (IV) e (V) são verdadeiras.
A alternativa correta para esta questão é a letra (b), pois só são verdadeiras as afirmativas (II) e (IV). A (I) está incorreta porque o uso de testes psicológicos não é uma condição para realizar uma avaliação psicológica. É possível submeter alguém a um psicodiagnóstico sem usar testes. A (III) está incorreta porque a avaliação realizada em consultório usa técnicas que são testadas e aprovadas cientificamente. Também está incorreta a afirmativa (V): só pode utilizar testes psicológicos o profissional graduado em Psicologia.
A fim de dar seguimento a estas considerações, por meio deste módulo, você poderá realizar uma revisão e verificação de seus conhecimentos sobre a caracterização do processo: definição, objetivos, responsabilidades, além da operacionalização do processo psicodiagnóstico. Quanto à definição, é importante ter clareza sobre o significado de cada palavra ou frase que a constitui. De acordo com Jurema Cunha (2010) “Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso.”
Vale saber que o processo psicodiagnóstico pode ter um ou mais objetivos dependendo da solicitação, demanda e hipóteses formuladas inicialmente. O exercício que vem a seguir ilustra as questões que poderá encontrar sobre estes assuntos, durante a realização dos exercícios deste módulo.
O processo psicodiagnóstico pode ter vários objetivos que variam dependendo da complexidade das questões propostas. Assinale a afirmativa que relaciona corretamente o principal objetivo de uma avaliação psicológica clínica e sua especificação:
a) A classificação simples compara a amostra do comportamento do examinando com resultados da população em geral.
b) A descrição testa hipóteses iniciais utilizando critérios diagnósticos como os da CID-10.
c) O diagnóstico diferencial determina o nível de funcionamento da personalidade e os relaciona com bases teóricas.
d) O prognóstico procura identificar precocemente os problemas e riscos para enfrentar situações novas e estressantes.
e) A classificação nosológica visa, principalmente, determinar o provável curso da problemática do examinando.
A alternativa correta a esta questão corresponde a letra (a). A avaliação psicológica que visa uma classificação simples compara os resultados do examinando ao de outros sujeitos com condições demográficas equivalentes. Todas as outras alternativas estão incorretas porque suas especificações não são verdadeiras. A especificação da afirmativa (b) corresponde à classificação nosológica; a (c) retrata as especificações do entendimento dinâmico; a (d) se refere à prevenção e a alternativa (e) ao diagnóstico diferencial.
A leitura complementar indicada possibilitará uma breve revisão histórica da psicometria, especialmente relacionada ao conceito de inteligência. Apesar de o tema principal deste módulo ser o processo psicodiagnóstico, o desenvolvimento histórico do conceito de inteligência confunde-se um pouco com o desenvolvimento histórico do psicodiagnóstico. Por esta razão, vale revisá-lo. Para tanto leia ALMEIDA, L.; GUISANDE, A.; PRIMI, R., E FERREIRA, A., Construto e medida da inteligência: contributos da abordagem fatorial em PRIMI, R; ALMEIDA, LS; CANDEIAS, A; ROAZZI, A., Inteligência: Definição e medida na confluência de múltiplas concepções. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2008. Cap.2