Psicologia do Camaleão

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domingo, 25 de novembro de 2018

TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGIAS Módulos 5, 6, 7 e 8.

Resumo do TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGias


MÓDULO 5: O HUMANISMO AMERICANO; 


MÓDULO 6: O EXISTENCIALISMO EUROPEU;


MÓDULO 7: A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA; 


MÓDULO 8: PSICOLOGIA OU PSICOLOGIAS?



Leitura Obrigatória:

- BUYS, R. C. A psicologia humanista. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 20).


- ROSA, E. Z.; KAHHALE, E. M. P. Psicologia humanista: uma tentativa de sistematização da denominada terceira força da psicologia. In: KAHHALE, E. M. P. (org.) A Diversidade da Psicologia: Uma Construção Teórica. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulo 9).



Leitura para Aprofundamento:

- FIGUEIREDO, L. C. FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do Pensamento Psicológico. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. (Capítulo VIII).

MÓDULO 5: O HUMANISMO AMERICANO;



 Apresentação do Tema:


 A Psicologia Humanista surge a partir da década de 50, nos EUA, apresentando - se como uma proposta restauradora dos grandes valores humanos que, de acordo com o seu próprio ponto de vista, não eram contemplados nos principais sistemas psicológicos de maior proeminência, na época – a Psicanálise e o Behaviorismo.
Baseado em uma concepção positiva sobre o homem e sua possibilidade de auto-desenvolvimento, o projeto humanista expandiu-se rapidamente. O surgimento e disseminação das idéias humanistas, nos EUA, foi visto por diversos autores, como resultado do crescente mal-estar provocado pelo esgotamento dos sistemas sociais vigentes; neste sentido, as estratégias de auto-conhecimento que iam sendo propostas, foram caracterizadas como busca compensatória de soluções individualizantes para um sentimento coletivo de desamparo. Um destes comentadores do período é Christopher Lasch que, em “A cultura narcisista: a vida americana numa era de esperanças em declínio”(1983), afirma:
“Após a ebulição política dos anos sessenta, os americanos recuaram para preocupações puramente pessoais. Desesperançados de incrementar suas vidas com o que interessa, as pessoas convenceram-se de que o importante é o autocrescimento psíquico: entrar em contato com seus sentimentos, comer alimentos saudáveis, tomar lições de dança clássica ou dança-do-ventre, mergulhar numa sabedoria do Oriente, correr, aprender a se “relacionar”, superar o “medo do prazer”. Por si sós inofensivas, essas buscas, elevadas ao nível de um programa e embrulhadas na retórica da autenticidade e da consciência, significam um recuo da política e um repúdio ao passado recente. (Lash, 1983, p.24-25) Para o autor, o interesse que se verificava entre os americanos por estas “psicotecnologias", era uma ‘estratégia de sobrevivência’ adotadas pelos indivíduos, face ao profundo sentimento de fim de era característico do período e o conseqüente enfraquecimento do sentido do tempo histórico.
Tais críticas, porém, não reduziram o impacto, nem reverteram o interesse que se vinha registrando não apenas nos Estados Unidos pelo conjunto de métodos, práticas, técnicas, que pudesse ser utilizado como caminho viável para o estabelecimento de condições mais satisfatórias de convivência.
Os textos de Rogers são da mesma época e foram produzidos dentro da mesma cultura. Esta contextualização é importante porque coloca o autor em completa sintonia com correntes de pensamento que então vicejavam, dos EUA espalhando-se para outros países.
Outros modelos teóricos foram produzidos neste mesmo cadinho e guardam aproximações com os aspectos discutidos com relação à abordagem rogeriana. É preciso destacar que, na medida em que divulgam uma versão positiva da condição humana, os adeptos dessa corrente supõem a compatibilidade entre a realização autêntica do indivíduo e a felicidade coletiva. Esta harmonia pode ser prejudicada, mas um processo restaurativo a trará de volta, conforme afirma Figueiredo (1991), aos apresentar esta matriz de pensamento:
 “A natureza é sempre boa, sempre positiva, é uma fonte inesgotável de criações e prazeres; a sociedade pode não ser tão boa, mas nada impede que se torne, e isto dependerá essencialmente da transformação do indivíduo, que nada mais é que a sua autêntica realização, que a atualização infinita do potencial de vida que habita cada sujeito” (Figueiredo, 1991, p. 132).

  

MÓDULO 6: O EXISTENCIALISMO EUROPEU;




Leitura Obrigatória:




- SÁ, R. N. As influências da fenomenologia e do existencialismo na Psicologia. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 19).



Leitura para aprofundamento:



- FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do Pensamento Psicológico. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. (Capítulos IX, X, XI).

- KAHHALE, E. M. P. Fenomenologia: fundamentos epistemológicos e principais conceitos. In: KAHHALE, E. M. P. (org.) A Diversidade da Psicologia: Uma Construção Teórica. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulo 6).

Apresentação do tema:

O Existencialismo e a Daseinsanálise (Texto didático reproduzido com a permissão da autora, Cláudia Costabile)

1. Origem e fundamentos:
Para alcançarmos um tratamento minimamente rigoroso das assim chamadas ‘psicoterapias existenciais’ devemos buscar suas origens na filosofia, estabelecendo um ponto de partida que nos guiará na compreensão das abordagens psicológicas que, ao se distanciarem das propostas terapêuticas vigentes nas décadas de 40 e 50 do século vinte, propuseram um outro caminho para a compreensão do fenômeno psicológico.
Comecemos, então, por Martin Heidegger (1889-1976). Este pensador foi quem, em 1927, nos ofereceu em sua obra magistral – Ser e Tempo –o ponto de partida para o que se pôde denominar (ainda que à revelia do autor) de pensamento existencial, seja na filosofia, seja na psicologia. Segundo Heidegger (1927) o homem tem marcada sua diferença em relação aos outros entes porque o ser humano é aquele que se coloca como intérprete do ser. Na verdade, a questão sobre o ser, das questões a mais abstrata, constitui todo o percurso do pensamento heideggeriano, em torno do que seria para ele o início de toda a história do pensamento ocidental.
Sendo o homem este ente que se pergunta desde sempre sobre o sentido das coisas, sua verdade, inclusive sobre o sentido de si mesmo, isto o coloca como objeto privilegiado para Heidegger na elaboração de sua Ontologia, tentando revelar com isto os liames que ligam conhecimento e existência. E é assim que se dá em Ser e Tempo a retomada sobre a questão que caiu no esquecimento do pensamento e do ‘modus vivendi’ ocidental, marcados pelo desenvolvimento da metafísica e do frenesi tecnológico – a questão sobre o ser.
Heidegger, como discípulo de Edmund Husserl (1859-1938), foi quem primeiro utilizou o método fenomenológico para investigar o existir humano. E é por isto que o campo de conhecimento que então se desenvolve pode ser denominado de ‘fenomenológico-existencial’: referência simultânea ao método (fenomenológico) de investigação e ao âmbito (o existir) a partir do qual todo e qualquer conhecimento pode ser concebido. E como é definido este “existir”? Como a condição humana por excelência, na qual o homem “é” na exata medida em que se encontra com algo além de si mesmo, formando uma rede de significações a que chamamos “mundo”, na qual habita. Deixando de lado a questão de, se o pensamento de Heidegger pode ser considerado como existencialista ou não, o que interessa a nosso propósito é assinalar que seu pensamento filosófico, particularmente o desenvolvido em Ser e tempo, constitui-se o ponto de partida das chamadas “psicoterapias existenciais”. A característica essencial do homem, com efeito, segundo Heidegger (1927),é a de ser intérprete do ser. Isto obriga a Ontologia Fundamental a analisar, em primeiro lugar, a modalidade de ser do homem. A determinação essencial do homem como primordialmente a de interpretação do ser significa que ascaracterísticas encontradas não podem ser consideradas “propriedades” de um objeto. Encontra-se na etimologia da própria palavra existir (estar-fora-de) mais uma possibilidade de interpretação da condição humana correlata à noção de consciência transcendental proposta por Husserl: não é só a consciência que é consciência de algo fora de si mesma, o homem, possuidor desta consciência é ser-no-mundo, ou seja, constitui-se enquanto existente, na sua relação com as coisas. O sentido deste existir não está nele mesmo, qualquer apreensão de si mesmo, origina-se de um casamento monogâmico e indissolúvel entre o objeto que é visto e o olho que o contempla (Pellegrino, 1988).

2. Do transcendental ao empírico: 

Aproximações entre filosofia e psicologia. A proposta da fenomenologia-existencial oferece como referência para a psicologia e para a psicoterapia a noção de ser-no-mundo. O acesso a este ocorre no exercício da redução, ao suspendermos um saber já dado para nos dispormos a ir ao encontro do que se apresenta, como se apresenta à nossa consciência. É importante ressaltar, neste ponto, que as propostas terapêuticas que surgiram a partir do encontro entre a fenomenologia-existencial heideggeriana e a psicologia e psiquiatria visavam principalmente, para não dizer exclusivamente em muitos casos, as atitudes do psicoterapeuta. Os questionamentos que daí surgiram em relação aos tratamentos psicoterápicos psicanalíticos ou comportamentais dirigiam-se ao predomínio do método científico e tecnológico nas práticas clínicas: cabia aqui, neste domínio, a mesma crítica empreendida por Husserl no tocante às diferenças e especificidades dos objetos de estudo das ciências naturais e das ciências humanas. Segundo esta perspectiva, a única possibilidade de se modificar o método de investigação de um dado fenômeno é quando reconhecemos as diferençasde cada objeto de estudo, abandonando a ilusão de se encontrar um método único e absoluto que possa vir a ser aplicado à qualquer dimensão da realidade. Concebendo o ser humano, o seu existir, com suas particularidades, muda-se tanto a atitude diante dele, quanto o tipo de intervenção e análise que venha a se fazer, incluindo aí as teorizações que poderá fazer sobre ele. Assumindo a abordagem fenomenológica do existir como possibilidade privilegiada de compreensão do fenômeno psicológico, destaca-se o ser-no-mundo como a característica básica que irá nortear a atitude clínica.
Se o homem pode ser definido, na sua origem como o ser que é capaz de tomar consciência de sua própria existência (consciência reflexiva) e a partir desta consciência constituir-se como existente, pode-se dizer que o seu ser, aquilo que ele é, em essência está indissoluvelmente ligado ao mundo, é a sua própria existência. Portanto, para o homem o seu existir e a consciência disso são dependentes do mundo. Mundo, aqui, são as significações atribuídas às coisas, tal como surgem para uma dada existência.
Esta compreensão do ser humano fundada no seu existir-no-mundo, revela que os significados atribuídos às experiências possuem duas características básicas: o humor e a compreensão, que são, por assim dizer, o fundamento e as pré-condições de todo conhecimento posterior. No que diz respeito ao humor, encontramo-nos diante do mundo sempre numa dada disposição afetiva e a nossa compreensão é modulada a partir destas tonalidades de afetos (afetos são sinônimos de emoções no sentido fisiológico, mas refere-se ao modo como somos afetados pelo que vem ao nosso encontro). O que se defende é que as nossas análises racionais, os conceitos e as teorias que somos capazes de elaborar originam-se das significações atribuídas no encontro entre consciência e mundo.
Esta compreensão coloca a dimensão racional em segundo plano, submetido ao e dependente do âmbito existencial. Os parâmetros e referenciais “objetivos” fornecidos pelas teorias são um bom norte para o estar-no-mundo, porém não suprimem nem substituem a tarefa de cada um de encontrar um sentido para si e para as coisas que lhe vêm ao encontro.
Os significados atribuídos às experiências vividas, ou em outras palavras, o conhecimento que se adquire nestas experiências são verdades relativas, ouseja, só podem ser consideradas verdades num determinado tempo e num dado espaço. Estes por sua vez, também são interpretados e vividos pelo homem originariamente aquém de suas características objetivas, isto é, cada momento vivido não se restringe aos seus aspectos puramente objetivos, por exemplo, o tempo presente – seja lá que hora do dia ou da noite for – pode estar carregado de vivências passadas ou de expectativas futuras, que permitem a transcendência do tempo cronológico.
A isto se dá o nome de temporalizar: a autoconsciência que se constitui através da experiência interna do tempo, o tempo presente que resgata o que já foi (passado) e gesta o que está por vir (futuro).
O mesmo se dá no tocante ao espaço: não existe uma relação direta de igualdade entre as dimensões objetivas de um espaço e a forma como é a experiência vivida pela consciência reflexiva.
Portanto a perspectiva fenomenológico-existencial – dirigida às vivências e centrada na existência humana –promove uma interrogação e busca compreender a estrutura das relações do sujeito e não mais uma busca do conhecimento objetivado das estruturas do sujeito. Isto significa que:
a) A experiência individual (mesmo a patológica) não deverá ser fragmentada em categorias abstratas; b) Nada é verdadeiro ou real para o sujeito a menos que ele participe e tenha consciência e uma certa relação com a verdade ou realidade em questão; c) O que se torna central é o fenômeno3] que aparece à consciência, a experiência individual e a dinâmica existencial.


3) O homem e seu devir: a angústia de existir

Este modo de trabalhar os fenômenos, re-situando o pensar a partir de questões existenciais, define as relações entre homem e mundo como algo construído ao longo do tempo. Estar-no-mundo para o homem não é algo fixo e imutável, pelo contrário, é a própria experiência da abertura às infinitas possibilidades de significar e representar o mundo, reveladora da liberdade constituinte, originária do existir humano. No entanto, liberdade é liberdade de escolha, ou seja, o homem tomado no seu âmbito existencial não cria seus próprios limites, mas é obrigado a conferir aos limites que lhe são impostos um significado. E dos limites, aquele que delimita radicalmente toda e qualquer escolha é a condição de mortal na qual o homem é lançado no mundo.
A consciência reflexiva e a condição de mortal formam no homem uma combinação muito particular, pois, se à semelhança de todos os outros seres vivos também irá morrer, será a consciência disto que o diferencia radicalmente destes outros. É esta experiência muito particular de ser-para-a-morte, de consciência de sua finitude, de consciência pré- reflexiva de que o sentido de seu ser e das coisas flui e encaminha-se para o seu oposto, a morte enquanto ausência radical de sentido que faz emergir a “fonte” de todos os afetos: a angústia.
Este vazio no qual o homem “nasce” existencialmente, posto que não lhe é dada qualquer garantia ou segurança, a não ser a de que é mortal é, de novo, o que atesta a relatividade das verdades construídas pelo homem acerca dos objetos, do real. Enfim, toda verdade ou representação do real é tão provisória quanto o próprio homem o é. Este hiato entre os significados e as coisas, a sempre presente possibilidade de se romper a trama das significações que constituem e sustentam homem e mundo permite surgir esta vivência muito particular: a angústia, esta experiência de radical rompimento da significabilidade do real, do vazio irrepresentável, porém igualmente constituinte da condição humana, a saber, a sua própria finitude, seuser-para-a-morte.
A angústia, esta lufada que retira do homem todas as certezas é, para Heidegger, a disposição fundante. Se, de um lado, esta experiência pode ser assustadora, é também só a partir dela que se abre a possibilidade de investir, de empenhar-se autenticamente na busca do conhecimento, na tentativa de preencher este vazio e ao mesmo tempo resgatar a re-ligação com o real.
Esta é a liberdade humana: fundada na angústia revela a nossa indigência diante do real, nenhum conceito ou coisa alguma garante a permanência de verdades absolutas, para sempre. Em outras palavras, nenhum saber preenche totalmente este vazio já mencionado. Permanece, enquanto há vida (biológica) a necessidade e ininterrupta tarefa de tentar compreender o sentido (existencial) da vida.


4) A prática terapêutica analítico-existencial ou daseinsanalise

Trata-se, portanto, de tentar instaurar um diálogo entre a perspectiva conceitual e a existencial, sem anular as diferenças e o mérito de cada uma. Tomar, então, por objeto a experiência do sujeito enquanto suscetível de descrição e compreensão de suas estruturas intencionais, o que implica na compreensão da relação homem-mundo.
A preocupação centra-se em como as coisas se passam, pois acredita-se nas infinitas possibilidades da mudança na relação ser-no-mundo, em que mundo não é mais um conjunto de “objetos em si”, mas a significação atribuída a eles. Coloca-se entre parênteses o mundo da ciência e investiga-se a experiência vivida, compreendendo a perturbação em relação ao quadro mais amplo do projeto existencial, ou seja, as relações estabelecidas têm um sentido próprio para cada ser humano, e no âmbito psicoterápico é esta característica que deve ser privilegiada: a busca da compreensão de cada projeto existencial, seu rumo e suas significações.
A atitude solicita uma mobilização pessoal no contato com o outro – o paciente é tomado como referência anterior aos referenciais teóricos. Abrir-se à situação - recuo em relação à reflexão enquanto discussão de idéias. A atitude fenomenológica está marcada pelo deslocamento da crença no conhecimento para a crença no sujeito existente. O existir não pode ser restrito a um processo psíquico (um processo psíquico é uma, e não a única, forma de compreender como um dado ser-no-mundo abarcar o que o rodeia).
A atitude do terapeuta é marcada por uma espontaneidade do ir ao encontro, assim como está atento à espontaneidade do paciente. Resgatando o pré-reflexivo na terapia, procura estimular o sujeito a contatar com a vida, fazê-lo sair de uma apropriação indevida ou inautêntica. As questões que mais de perto afetam qualquer existente, na condição de ser-para-a-morte e que requerem uma atenção especial no trabalho psicoterápico são angústia e culpa.
O próprio existir é o “pelo que” cada angústia se preocupa. Para que o ser humano viva e sobreviva ele necessita estar minimamente seguro e amparado. Porém, nem todo amparo e segurança eliminam a possibilidade de o homem experimentar a angústia, em maior ou menor grau; sempre existe a possibilidade de ser diferente – o inesperado, o tempo futuro e com isto, há aproximação, mais ou menos direta, mais ou menos intensa de uma certeza inerente ao existir humano: a de não-poder-mais-ser. Assim, parece inevitável, diante da certeza pré-reflexiva de que é finito, que todo ser humano tenha durante toda a vida razão suficiente para temer pela sua vida, em ter medo de sua morte e do seu não-poder-mais-ser.
Toda angústia é inerente à vida, é um “dote” do ser-no-mundo, não sendo possível livrar-se disto pela psicoterapia. Mas esta angústia é medo e possibilidade fundante de cuidado e amor à vida – angústia e amor são peso e contra-peso de uma mesma experiência. A confiança, o cuidado e o afeto do terapeuta permitem que o cliente aproxime-se de suas angústias, enfrentando-as em profundidade, possibilitando maior liberdade em suas escolhas, vida e morte compondo uma totalidade a partir da qual as percepções dicotomizadas e distorcidas vão sendo substituídas por uma existência e significados mais autênticos, pois mais próximos de sua condição inalienável de ser-aí (dasein).
Nesse existir, estando lançado no mundo, há a implicação de estar fazendo escolhas – optando por algumas coisas, deixando outras de lado. Só é possível acolher o que vem ao encontro dentro do limite de um dado tempo(ralizar) e espaço. Portanto, existencialmente, está-se sempre em falta, sempre seria possível ter feito diferente, dito sim ao invés de não, assim como a percepção e apreensão do real sempre se dá por perfis – não abarcamos o todo de forma absoluta.
A existência humana é esta abertura que os fenômenos de nosso mundo necessitam para poderem aparecer e ser. A possibilidade de corresponder ou esquivar-se às reivindicações do mundo forma a característica básica da liberdade humana. Culpa (limite) e liberdade são peso e contra-peso de uma mesma experiência. A psicoterapia deveria propiciar este aproximar-se da vivência de culpa, profundamente, colocando o ser-aí diante de seus limites, enfrentando-os, libertando-se de sua carga opressiva.


5) O existencialismo sartreano

Jean-Paul Sartre (1905-1980) estudou a fenomenologia de Husserl e as idéias de Heidegger. Desenvolveu sua filosofia da existência a partir da análise da condição humana segundo a qual: e existência precede a essência, apontando sempre para o absurdo da vida: o homem que toma consciência de sua condição de mortal, de ser marcado pela morte e com a tarefa de dar um sentido a sua existência. A sua essência, o que o homem é não está dado, será construído no seu próprio existir. A consciência é o elemento central da busca de sentido para a sua existência, pois é reveladora tanto do absurdo da vida quanto da existência do outro (lembremos que a consciência como intencionalidade não existe se não no encontro com algo diferente de si mesma). É neste embate com o outro, neste confronto entre duas ou mais liberdades, dois ou mais existentes, que o homem se vê condenado a ser livre: precisa assumir sua liberdade, a falta de sentido prévio para a sua própria existência, vivendo autenticamente seu projeto de vida. Assumir significa seu engajamento com o que faz, a consciência de que é aquilo que faz, é o conjunto de seus atos, em oposição aos papéis sociais que lhe são impostos. A potência do homem está nos seus atos.
O homem carrega consigo o nada, como a consciência da ausência prévia de sentido, tanto das coisas quanto de si mesmo, é o homem quem traz o nada ao mundo, quem o revela e quem, por conseguinte, é livre. Esta sua liberdade é a fonte de sua angústia, e vai tentar refugiar-se da liberdade e da angústia apropriando-se ou fingindo escolher idéias que indiquem que seu destino está traçado, fugindo do dilema radicalmente humano de ser ou não ser, tentando eximir-se da responsabilidade pelos seus atos.
A morte para Sartre não é o supremo projeto humano, pois não significa uma das possibilidades do homem, ao contrário, é aniquiladora de todos os seus projetos, retira o sentido da vida Este modo de pensar, concebido sim como existencialista, posto que se preocupa exclusivamente com o existir humano pode ser apropriado pela psicologia clínica na medida em que permite uma reflexão sobre a condição humana com vistas à conquista de uma consciência e um engajamento do homem em relação às suas escolhas e seus atos, que são o que constituem, por fim sua própria existência.


Referências Bibliográficas:

CRITELLI, Dulce. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC: Brasiliense, 1996. CANCELLO, Luiz A. O fio das palavras: um estudo de psicoterapia existencial. São Paulo: Summus, 1991. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes, 1980. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. - 3 ed. rev. e ampliada. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. SARTRE, Jean-Paul. “O existencialismo é um humanismo”. In: Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Ind., 1973.

 “A natureza é sempre boa, sempre positiva, é uma fonte inesgotável de criações e prazeres; a sociedade pode não ser tão boa, mas nada impede que se torne, e isto dependerá essencialmente da transformação do indivíduo, que nada mais é que a sua autêntica realização, que a atualização infinita do potencial de vida que habita cada sujeito” (Figueiredo, 1991, p. 132).


MÓDULO 7: A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA

Leitura Obrigatória:

- ROSA, E. Z.; ANDRIANI, A. G. P. Psicologia sócio-histórica: uma tentativa de sistematização epistemológica e metodológica. In: KAHHALE, E. M. P. (org.) A Diversidade da Psicologia: Uma Construção Teórica. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulo 10).
 Leitura para Aprofundamento:
- FERREIRA, A. A. L. Da psicologia ideológica à psicologia revolucionária: o marxismo na psicologia ocidental. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 22).
- REY,F. L. G. A psicologia soviética: Vigotsky, Rubinstein e as tendências que a caracterizaram até o fim dos anos 1980. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 21).
Apresentação do tema:



A Contribuição Marxista: O Materialismo Histórico e Dialético.



A Psicologia Sócio-Histórica é uma vertente teórica da Psicologia, cujas proposições ligadas ao conhecimento do homem e de sua subjetividade estão guiadas pela concepção materialista dialética.

Segundo o Dicionário Houaiss MATERIALISMO DIALÉTICO é um conjunto de ideias fundamentadas nos escritos finais de Engels (1820-1895) e transformadas em doutrina sistemática pelos marxistas soviéticos, que busca integrar a reflexão de Marx a respeito da sociedade e de suas transformações – o materialismo histórico – a uma teoria sobre o processo dialético na realidade natural, no pensamento humano, e nas relações entre os seres vivos.
Ainda segundo o Dicionário Houaiss MATERIALISMO HISTÓRICO é uma doutrina formulada nos escritos de Karl Marx (1818-1883), que se propõe a uma compreensão do processo histórico universal fundamentada no labor humano, em sua finalidade de satisfazer as necessidades econômicas da sociedade (alimentação, vestimenta, abrigo etc.), e na luta estabelecida entre as classes sociais pelo controle dos instrumentos e frutos desta produção.
A produção de Karl Marx (1818-1883) está intimamente relacionada ao momento histórico em que viveu e desenvolveu seu pensamento. Assim, sua obra é fortemente determinada pelos acontecimentos políticos, econômicos e históricos em que está inserido, bem como por um forte comprometimento em relação à classe trabalhadora.

Os Primórdios da Psicologia Sócio-Histórica:

A Psicologia Sócio-Histórica Surge no início do século XX, na União Soviética, momento em que esta procurava reconstruir suas teorias científicas a partir do referencial marxista. Destaca-se o nome de Vygotsky (1896-1934), a quem se deve os primeiros passos em direção a esta nova Psicologia, a qual teve como principais seguidores Luria (1902-1977) e Leontiev (1903-1979).
Vygotsky por volta de 1924 mostra-se insatisfeito com as correntes psicológicas, apontando a existência de uma crise mundial na Psicologia, uma vez que suas diversas escolas se dirigiam ora para modelos elementaristas, negando a consciência, ora para modelos subjetivistas, considerando a consciência e os processos interiores desvinculados das condições materiais que os constituíam. Vygotsky procura diluir a oposição mundo interno versus mundo externo com a teoria histórico - cultural.
Vygotsky propõe construir a Psicologia pelos princípios e métodos do MATERIALISMO DIALÉTICO, de modo que sua produção se destinava à descrição e explicação da construção e desenvolvimento do psiquismo e comportamento humano, a partir das funções psicológicas superiores (pensamento, linguagem e consciência), guiando-se pelo princípio da gênese social da consciência.

A Concretização da Psicologia Sócio-Histórica.

A obra de Vygotsky é fortemente marcada pela CONCEPÇÃO MARXISTA de HOMEM e REALIDADE, uma vez que estava guiada pelo princípio de que o
Ser Humano constrói a si mesmo nas relações que estabelece com a realidade, na medida em que:
É determinado por esta realidade.
Atua sobre esta realidade Transforma esta realidade. Os PRESSUPOSTOS para o desenvolvimento da teoria de Vygotsky são:
Crítica a tentativa de compreensão de funções superiores por intermédio da psicologia animal, bem como do desenvolvimento natural humano, segundo o qual estas funções são resultados de um processo de maturação. Ênfase na origem social da linguagem, do pensamento, colocando a cultura como parte do desenvolvimento, e a visão das funções psicológicas como produto da atividade cerebral. De acordo com a teoria marxista, compreende os fenômenos como processos em movimento e mudança. O homem é entendido como um ser que atua sobre a realidade por intermédio de instrumentos, transformando-a e a si próprio. O conhecimento deve apreender, a partir do aparente, as determinações constitutivas do objeto. A origem e a base do movimento individual estão nas condições sociais de vida historicamente formadas. Vygotsky nega qualquer tentativa de explicação referente a uma concepção da natureza humana universal e imutável, a qual necessita apenas aflorar e se desenvolver ao longo da vida do indivíduo.

MÓDULO 8: PSICOLOGIA OU PSICOLOGIAS?



Leitura Obrigatória:



- FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do Pensamento Psicológico. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. ( Capítulo XII).


Leitura para Aprofundamento:

- FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do Pensamento Psicológico. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. (Capítulo II).


Apresentação do tema:

Em uma visão perspectiva, é possível avaliar com mais precisão o que afirmamos, no início do curso, a respeito da diversidade das teorias psicológicas. Como bem coloca Figueiredo (2012), a diversidade é particularmente notável, na medida em que, ao longo do tempo, observa-se “surtos” de interesse por um ou outro enfoque metodológico, um ou outro modelo de compreensão dos problemas humanos.
Vimos, ao apresentar a Psicologia Humanista, que a proposta surgiu no e do contexto americano do pós-guerra, concretizando os ideais de uma sociedade em crise. Atualmente, vemos recrudescer as tentativas de desenvolvimento de uma psicologia de caráter mais biologizante, na esteira dos avanços contemporâneos na área das neurociências e da psicofarmacologia.
Neste sentido, é bastante oportuno reiterar a idéia de que os projetos de Psicologia guardam estreita relação com as condições sociais, econômicas e culturais que os possibilitam e dão sentido e um profundo compromisso com as ideologias em curso em dado momento histórico. Este fato, hoje, mais que nunca, obriga-nos a um esforço reflexivo que, para além dos aspectos puramente epistemológicos, envolvamos em uma avaliação dos compromissos éticos que implicam.

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sábado, 24 de novembro de 2018

Psicologia Sócio-Histórica







Psicologia Sócio-Histórica

A Psicologia Sócio-Histórica tem como base a teoria de Vygotsky que afirma que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais em que o indivíduo mantêm no decorrer de sua vida. Neste contexto entende-se que o processo de ensino-aprendizagem também se desenvolve por meio das interações que vão se desenrolando no decorrer no decorrer da vida. Compreende-se que desde que nascemos somos dependentes socialmente das outras pessoas, e entramos em um processo histórico, que de um lado, nos oferece o que o mundo oferece e as visões sobre ele e, de outro, permite a construção de uma visão pessoal sobre este mundo que o cerca. É importante destacarmos que Vygotsky com sua teoria trouxe muitas contribuições para a educação e a aprendizagem, pois através de seus estudos pode-se perceber como a cultura e a história de um indivíduo podem interferir no seu processo de ensino-aprendizagem.

Fenomenologia - existencial


Essa abordagem que surgiu em meados do século XIX, seus percussores foram: Edmund Husserl, Martin Heidegger, e Jean-Paul Sartre. A fenomenologia baseia-se na filosofia tradicional. Tem como preocupação central a descrição da realidade, é uma filosofia da vivência. O interesse para a Fenomenologia é o modo como o conhecimento do mundo se dá e se realiza para cada pessoa. Já segundo o existencialismo o homem tem primeiro uma existência metafísica. Quando esses dois pensamentos se juntam temos então uma abordagem onde o homem é responsável por aquilo que é. Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, “mas o que ele faz do que fizeram dele.”. O existencialismo fenomenológico considera cada ser único e dono do seu destino. Essa abordagem tem como base principal o sentido do ser. Com base nesse pensamento a consciência nos chama a assumir nossa culpa, ou seja, assumir a responsabilidade por todas as nossas ações, e os resultados que esta gera em nossas vidas. O homem é um “ser” no mundo, o homem é lançado e submetido a uma situação que não escolheu, para descobrir o sentido de sua própria existência e orientar suas ações nas direções mais diversas. Não somos aquilo que queremos ser, somos frutos do que estamos vivendo, cuja responsabilidade é apenas nossa. Quando fazemos uma escolha do que queremos ser não estamos escolhendo apenas o que queremos ser, mas, como todos os outros devem ser a partir do momento que nos deparamos com tal situação surge ao se descobrir que somos donos de nossos destinos, angústia. A angústia que segundo Sartre todos tem, seja por ignora-la fingindo não ter nenhuma responsabilidade sobre si e sobre o outro, ou quando se admite tal responsabilidade. Ela é a disposição fundamental que nos leva a sermos nós mesmos. A maldade humana e a fraternidade são opostas que nos ligam à responsabilidade de nossas escolhas: angústia como a consciência do que somos. (NadimeL'Apiccirella-2004). Sendo assim a angústia para de ser vista como fator patológico e passa a ser vista como fator de realização e crescimento humano. No ponto de vista de Sartre. Os existencialistas fenomenológicos trabalham muito ainda a questão da consciência, a consciência do fenômeno, e tudo aquilo que se mostra e existe só existe porque tomamos consciência eu esses fenômenos aconteceram. Os fenômenos devem ser estudados pelo que são. Para os existencialistas fenomenológicos existe apenas a consciência, diferente dos psicanalistas que trabalho com o inconsciente e o pré-consciente. Consideramos que essa abordagem em psicologia é muito rica e envolve autoanálise, e autoconhecimento. Envolve ainda a compreensão de que os processos não são lineares, e tem como princípio da crença no homem na sua forma de estar no mundo, na sua forma de escolher sua existência esse homem encara o vazio, a culpa, a angústia, a morte, sempre buscando achar-se e transcender-se.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Conceito de educação bancária





Paulo Freire – Um pouco sobre o conceito de educação bancária




Para descrever o processo educativo tradicional, elaborou o conceito de “educação bancária”, onde o conhecimento é apenas transmitido para o educando e este deve absorver as informações sem questionar, o que o reduz à mero espectador, tornando-o um objeto do processo de ensino, porque não é capaz de exercer atividades básicas para qualquer sujeito: a participação e o diálogo. Neste contexto o educador mantém uma postura rígida, com idéias fixas e invariáveis, que julga o valor da sua existência a partir da sua idéia de que os educandos são ignorantes, e que precisam dele para se transformar, caso contrário, nunca serão capazes de serem inteligentes. Esta visão retira do educando a possibilidade de viver sua autonomia e permitir esta experiência é uma atitude de respeito e amor com os educandos, a partir de uma postura ética do educador-educando, que estimula, e aceita a vocação ontológica do ser humano de ser mais.
Para colocá-la em prática é necessária uma profunda reflexão sobre a prática educativo-crítica, e, nas condições reais de autonomia, o educador se coloca ao lado do educando, sua postura é de estar junto com ele na tarefa de descobrir o mundo. Esta tarefa, realizada de forma coerente, implica em incentivar ao educando o pensamento curioso, em discordar do educador e construir uma postura que não se conforma com a primeira impressão, e precisa ir mais fundo.

Leia o Livro: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra, 1970.
Pedagogia do Oprimido, publicado em 1970 pela editora Paz e Terra, é um ensaio de 218 páginas que propõe uma educação libertadora e humanizadora em vez da concepção “bancária”, que só deposita conteúdo nos educandos. Preconiza também a problematização dos homens em suas relações com o mundo. “Desta forma, aprofundando a tomada de consciência da situação, os homens se ‘apropriam’ dela como realidade histórica, por isto mesmo, capaz de ser transformada por eles” (pág. 85).

Tal educação se baseia na dialogicidade, na fé nos homens – que possuem a vocação de ser mais (criativos, transformadores) – e em relações horizontais. O método busca o universo temático a ser tratado em diálogo com as aspirações do povo.

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