COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Módulo 2
A Psicologia Industrial, Organizacional e do Trabalho em sua história, seus conteúdos, metodologias e etapas de evolução.
Leitura Obrigatória:
ALBERTO, L. C. F. R. O papel da Psicólogo nas organizações. São Paulo, UNIP, 2003. 36 p. (Coleção Cadernos de Estudos e Pesquisas – UNIP: série didática, v.9, n.2-002/03).
Leitura para Aprofundamento:
MALVEZZI, S. Psicologia Organizacional - da Administração científica à globalização: uma história de desafios. São Paulo: USP, 2000.
SPINK, P.K. A Organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia do trabalho. Psicologia e sociedade. 8(1): 174-192, jan/jun, 1996.
Existem diferenças e evoluções que podemos salientar entre as chamadas Psicologia Industrial, Psicologia Organizacional e Psicologia do Trabalho, acentuando o papel de seus agentes.
A “Psicologia Industrial”, como essa denominação deixa claro, trata-se de um nome que até há não muito tempo, designava a disciplina em alguns currículos universitários, nasceu com o advento das grandes indústrias, que puderam lançar mão do especialista para auxiliá-las a compreender e, então, melhor coordenar as ações e reações do homem nas fábricas. Poderíamos afirmar que é a Psicologia do comportamento micro organizacional (relativa ao indivíduo), dimensão então entendida como a responsável pela eficiência no trabalho, ao lado do desenvolvimento da engenharia dos métodos e processos e da perfeita divisão de tarefas. Tratava-se da influência da ciência psicológica, de natureza experimental e individual, de caráter clínico, aplicada à organização do trabalho. Assim, a Psicologia das diferenças individuais, expressas nos testes de aptidão e de personalidade, da questão da motivação, como força impulsionadora da iniciativa do homem , das atitudes, poderia auxiliar na busca do”homem certo para o lugar certo”, o melhor ocupante para determinada função, maneiras de garantir desempenho satisfatório e adaptação às condições do ambiente organizacional. O homem é visto, então, como uma peça fundamental, mas não insubstituível, bastando, para o bom funcionamento da máquina organizacional, garantir a perfeição da peça, a diminuição da possibilidade de defeitos, em outras palavras, sua adequação ao perfil de habilidades exigidas pela função e sua capacidade de adaptação ao ambiente imposto. Uma certa preocupação com a influência dos grupos e das características da liderança na atuação individual aproximam essa abordagem às questões do comportamento mesoorganizacional, com alguma influência da Dinâmica de Grupo e da Psicologia Social. Os processo de seleção de pessoal e de avaliação de desempenho e ações de treinamento técnico e de supervisores, foram práticas desenvolvidas por psicólogos, sob esse arcabouço, subsidiadas pelo conhecimento que se desenvolvia a partir das ações de estudiosos nas empresas.
Com referência à “Psicologia Organizacional” podemos observar que tal nomenclatura não abandonou a referência à indústria, ambiente clássico e significativo em seu desenvolvimento, mas se apropria de instituições de outra natureza, além de adequar-se a uma visão sistêmica das organizações. Essa denominação abraça os comportamento meso e macroorganizacional, conforme descritos acima, inicialmente com influência maior da Psicologia Social e Dinâmica de Grupo, da Sociologia, posicionada no comportamento mesoorganizacional e, mais tarde, no nível macroorganizacional, marcando forte interdisciplinaridade entre a psicologia dos grupos e conhecimentos provenientes da Antropologia e da ciência política. Como lembra Zanelli (2002), precedidas de adequada formação multidisciplinar do psicólogo organizacional, também aplicadas à organização, essas ciências também trabalham nas três dimensões citadas, segundo seus quadros de referências próprios, mas também devem buscar sua justaposição com a Psicologia Organizacional. Sob essa dimensão, a Psicologia estuda e atua sobre os processos grupais, as relações entre grupos, as relações entre empresa e meio-ambiente, incluindo assim os processo de cultura e clima organizacionais, comunicações, poder, conflito e negociação. Quando surge, então, a denominação de “Psicologia do Trabalho”, a partir de meados da década de 1980, mas com maior força na década de 1990, e mais no Brasil, com influência européia, a concentração dos estudos e da ação do psicólogo organizacional parece estar na relação do homem com o seu fazer, com o seu trabalho, apropriadamente contextualizado e observado sob o olhar multidisciplinar. Claro que isso atende a uma mudança visível dos padrões de trabalho do mundo chamado pós-moderno – que se seguiu ao mundo das grandes organizações modernas, pós-fordistas. Não se perde com essa denominação a ação sobre os três níveis do comportamento organizacional, mas ela se amplia para abarcar uma organização do trabalho mais flexível, menos estruturada, que inclui trabalho feito em casa, terceirizações, part-time, desemprego e o que chamamos de não trabalho - a ausência do trabalho para a subsistência, que, sem dúvida, implica em um fazer diferente, atendendo outras necessidades psicológicas e, talvez, físicas. É forte a influência do que se denominou de Psicopatologia do Trabalho (Dejours, 1987), que nasceu a partir de estudos sobre a saúde do trabalhador e aprofundou – se nas questões do sofrimento no trabalho institucionalizado. A Psicologia do Trabalho, ao mesmo tempo que procede a essa ampliação, volta seu foco para a relação individual e única do homem com o seu trabalho, este relativisado pelo contexto, que se define como extremamente diversificado, tornando tal relação um fenômeno extremamente multifacetado e complexo, impossível de ser compreendido a partir de uma abordagem reducionista. Não se trata, assim, de um reducionismo nos moldes do paradigma da simplicidade, cartesiano, causal, mecanicista, que reduz à mínima parte para compreender o todo (esse, a Psicologia deixou para trás nos primórdios da Psicologia, ou sob a referência da Psicologia Industrial), mas de re-enxergar a relação do homem com seu trabalho sob um paradigma que o sociólogo e filósofo Edgard Morin (1999), citado por Tratenberg (1999) chama de paradigma da complexidade, que permite a compreensão do fenômeno como a visão de uma holografia – uma visão tridimensional, única, mas multifacetada, com possibilidades de ser vista a partir de vários ângulos. Trata-se, assim, de focar a relação do homem com o trabalho, influenciada pela relação íntima com sua consciência e seu corpo e pela inter-relação com outros indivíduos, grupos, instituições sociais e, particularmente, do trabalho, cercada por uma ordem econômica, uma conjuntura política, uma pressão do desenvolvimento tecnológico e da disseminação da informação.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as denominações relacionadas às etapas históricas e seus impactos na atuação do psicólogo relacionado ao trabalho.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre as três denominações históricas: Psicologia Industrial, Organizacional e a do Trabalho.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
A abordagem da Psicologia que foca a relação homem/trabalho, em seus diversos contextos e sob diversas influências, por se encontrar em uma conjuntura extremamente diversificada, é considerada como:
a) Psicologia Industrial
b) Psicologia Organizacional
c) Psicologia Cognitivo-comportamental
d) Psicologia do Trabalho
e) Psicologia Existencialista
Ao proceder à leitura do texto principal, você deve ter observado as diferenças e semelhanças destes três momentos da psicologia relacionada ao trabalho. Se você compreendeu adequadamente as mudanças organizacionais presentes, assinalou a alternativa d. As afirmações a - b pressupõem momentos relativos à visão mecanicista, focada em uma abordagem microorganizacional (psicologia industrial) e em uma abordagem sistêmica da organização, com enfoque nas dimensões meso e macroorganizacional (psicologia organizacional). As alternativas c - e correspondem a abordagens clínicas da psicologia e não especificamente pertinentes à relação Homem e Trabalho.
O papel do Psicólogo Organizacional e do Trabalho e as demandas atuais.
Leitura Obrigatória:
ALBERTO, L. C. F. R. O papel do Psicólogo nas organizações. São Paulo, UNIP, 2003. 36 p. (Coleção Cadernos de Estudos e Pesquisas – UNIP: série didática, v.9, n.2-002/03).
Leitura para Aprofundamento:
MALVEZZI, S. Psicologia Organizacional - da Administração científica à globalização: uma história de desafios. São Paulo: USP, 2000.
TRACTENBERG, Leonel. A Complexidade nas organizações: futuros desafios para o psicólogo frente à reestruturação competitiva. Psicologia, Ciência e Profissão, 1999, 19(1), p. 14-29.
Parece que não podemos pensar e fazer psicologia em qualquer aspecto sem a dimensão ou o paradigma do trabalho. Jacques (1998) propõe “o resgate do significado de alguns conceitos psicológicos à luz desse paradigma”); possivelmente os mesmos conceitos que poderiam ser encarados à luz dos paradigmas clínico, experimental, do desenvolvimento, social. Todos são psicologia a psicologia é todos ao mesmo tempo. Essa é a noção da holografia que tanto se tem propagado nos dias de hoje, como um modelo para atender ao paradigma da complexidade, conforme Morin (1999), que, ao referir-se ao paradigma causal, linear, o quadro de referências simples que reinou até meados do século XX, afirma que “quando a simplicidade não funciona mais, è preciso passar ao elo, à espiral, a outros princípios do pensamento”. Ele insiste que não se abandone o paradigma cartesiano, nem o sistêmico, que revolucionou o pensamento anterior das ciências fechadas, mas que o pensamento seja tridimensional, incluindo a terceira teoria – a da complexidade. Ora, essa nos parece uma visão convergente e abrangente que, se submetida à Psicologia, não permitirá grandes divisões, ou pelo menos que elas sejam apenas operacionais e, sim, permitirá grandes confluências na compreensão do ser humano.
A Psicologia do Trabalho é a psicologia do homem adulto e assim, perpassa a todas as “outras psicologias” e relaciona a Psicologia com muitas outras ciências humanas, na medida em que trata do fazer do homem. Com essa missão, não pode deixar de conhecer a amplitude das outras ciências que dizem respeito a esse fazer, o que inclui a ciência administrativa, para lamento dos psicólogos presos ao paradigma clínico. Não foi só a psicologia que viveu isso, a medicina do trabalho é outro exemplo, a administração, a sociologia especialmente.
Parece que nossa missão, enquanto psicólogos, em qualquer especialidade, seja resgatar os pedaços em que dividimos o objeto de estudo e de aplicação de nossa ciência e, ainda, entendermos que esse objeto inteiro é só parte de outros tantos outros objetos de estudos e ciências diversas. Isso implica em tanto o psicólogo cuja especialidade é a organização ou o trabalho, estudar e compreender o homem sob os outros paradigmas de sua ciência, como também os outros especialistas preocuparem-se com o paradigma da psicologia do trabalho. Caberá a todos uma tarefa mais difícil e que também tem que ser levada a cabo por tantos outros cientistas e profissionais – munir-se de um quadro de referências complexo, em que coexistem e justapõem-se todas as tentativas de compreender e agir sobre os homens.
Cabe ao psicólogo do trabalho a tarefa de vencer o desafio de encarar o ser humano um fenômeno múltiplo. Mas estará ele preparado para isso, tanto do ponto de vista de suas expectativas em relação ao objeto de estudo e trabalho, quanto em termos de uma formação multidisciplinar? O que leva e garante ao psicólogo desempenhar de forma pertinente seu papel nas organizações e na ação sobre a relação do indivíduo com seu trabalho?
Na medida em que o campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho se desenvolve, torna-se cada vez mais claro que a solidez e a eficiência de uma organização dependem, em última instância, de sua capacidade de diagnosticar seus próprios problemas e desenvolver suas próprias soluções. Torna-se necessário ao psicólogo do trabalho ser um agente de mudança. A humanização do trabalho deve abranger também a busca de novas formas de organização do trabalho, em que não seja necessário exercer controles rígidos sobre cada atividade, mas que se dê margem para que o homem exercite suas habilidades, com o sentido de auto-realização, tornando a relação do homem com seu trabalho mais criativa e saudável.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as denominações relacionadas às etapas históricas e o papel do psicólogo relacionado ao trabalho.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Quando analisamos a evolução da história das empresas e, sobretudo, a história da administração em geral pode-se identificar algumas fases: a artesanal, a da transição do artesanato à industrialização, a do desenvolvimento industrial, a do gigantismo industrial, a moderna e a da incerteza. Esta última, que se iniciou na década de oitenta, marcada pela revolução do computador, tem exigido mudanças constantes nas empresas e conseqüente alteração do perfil de um administrador, tanto quanto do de um psicólogo Organizacional e do Trabalho. Assinale a alternativa que corresponda a uma das novas exigências quanto ao perfil de tais profissionais. Atualmente, a demanda requerida ao profissional da Psicologia nas relações de trabalho, necessita que ele:
a) Seja um decisor racional, um planejador sistemático e um coordenador e supervisor eficiente das atividades organizacionais: está incorreta pois este papel coube para a era mecanicista.
b) Seja eficaz na sua especialidade e em sua capacidade de comandar e coordenar tarefas; esta característica coube para a era mecanicista
c) Pense na realidade administrativa como algo racional, controlável e passível de ser uniformizado: esta característica advém do modelo mecanicista.
d) Compreenda que as organizações são diferentes e estão inseridas em ambientes complexos e heterogêneos em ritmo de mudança acelerada: esta resposta está correta, pois as instituições e o modelo atual de constantes mudanças têm exigido uma visão contingencial e da conseqüente inter-relação das variáveis.
e) Supervisione rotinas e lide com tecnologias específicas, ao mesmo tempo que adote ações de curto prazo na busca de recursos: esta alternativa está presente na era mecanicista, porém hoje se exige um profissional com visão pró-ativa e com visão de futuro.
Se você compreendeu adequadamente o papel emergente da Psicologia relacionada ao Trabalho, assinalou a alternativa d. As afirmações a-b-c-e partem do princípio de que o profissional tenha uma atuação enquanto um especialista ou com poder decisório, em uma abordagem mecanicista ou funcionalista, sem reconhecimento dos aspectos que envolvam uma participação ativa, diante do contexto complexo emergente.