Psicologia do Camaleão

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domingo, 29 de março de 2020

MODULO 1: RETROSPECTO HISTÓRICO DA RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO

COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGanizações
 
Modulo 1
A formação e a evolução do pensamento da Psicologia: Retrospecto das relações do indivíduo com o trabalho e com a organização.
Leitura Obrigatória:
ZAVATTARO, H. A. Retrospecto histórico da relação do homem com o trabalho. São Paulo, UNIP, 2003. 46 p. (Coleção Cadernos de Estudos e Pesquisas – UNIP: série didática, v.9, n.2-001/03).

Leitura para Aprofundamento:
CHANLAT, J.F. O indivíduo na organização (vol. 1) Atlas. SP, 1993. Capítulo I: Por uma antropologia da condição humana nas organizações, p.21-46.

Antes da revolução industrial as relações entre o homem e o trabalho eram substancialmente diferentes das de hoje. Naquela época, a sociedade não estava habituada às rápidas mudanças e possuía uma estrutura social consideravelmente menos flexível que a de agora, o que fica evidenciado só pelo fato das pessoas manterem o mesmo padrão de vida durante gerações.
Como Drake e Smith (1976) relatam, para saber o que uma pessoa fazia para ganhar o sustento, bastava conhecer a vida que levava, ou seja, o tipo de sua casa, o seu padrão de existência e, por fim, a classe de indivíduos com quem seus filhos iriam se casar, o que dava uma indicação tão clara quanto o conhecimento de sua ocupação. Uma outra diferença importante estava na composição de seu serviço que, em grande parte, era executado em todas as suas etapas e consistia de tarefas completas, executadas pela mesma pessoa. Assim, o carpinteiro, além de provavelmente ter de vender o que fazia, deveria estar envolvido na preparação de sua matéria-prima, inclusive derrubando árvores.
Na época do feudalismo a afetividade andava lado a lado com a racionalidade, sendo que as emoções faziam parte integrante da relação do homem com seu trabalho e tal relação era mediada pela família e orientada pela informalidade, integrando o cotidiano do trabalho.
Durante a idade das trevas, o que a indústria podia fazer era apenas suprir necessidades locais, mas as empresas comerciais logo promoveram um florescente comércio exportador. Nos primeiros tempos da economia medieval, foram os comerciantes, e não os artesãos, que indicaram o caminho, mas à medida que as condições se desenvolveram, artesãos e profissionais começaram a ter grande importância. Enquanto as ligas de comerciantes haviam sido formadas, primeiramente, para arrancar liberdades dos nobres feudais, as ligas de profissionais se formaram para proteger os interesses dos produtores, no que tange aos produtos, contra os distribuidores, em face da tirania dos comerciantes, dos quais dependiam para seus mercados. (...) Mas no limite de sua força, a liga de profissionais foi um instrumento bem sucedido de manutenção da justiça econômica. “Para o profissional, o período de trabalho era freqüentemente longo, mas ele era seu próprio patrão, trabalhando quando precisava e tirando um descanso quando julgasse necessário.” (Brown, 1976, p. 26 e 27).
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que todos os interesses econômicos eram subordinados ao assunto real da vida, a salvação, e segundo lugar, que tanto na conduta pessoal como na economia as regras morais eram obrigatórias. A usura era proibida e os lucros não deviam exceder os ganhos do trabalho profissional. (...) A Idade Média deve-se dizer, não era em nenhum sentido, ideal. A massa da população vivia em miseráveis habitações. O país era varrido pelas pragas e a crueldade e a superstição eram elementos comuns da vida diária. (...) Em uma sociedade em que o status é rigidamente definido e onde a ascensão na escala social é rara e nunca inoportuna, o pedantismo não pode infectar mais pessoas. Cada um conhece o seu lugar e percebe a finalidade da sua posição; por isso, há menos motivo para pretensões e ostentação, ambos originados da insegurança e da mobilidade social.” (Brown, 1976, p.28)
A Revolução Industrial causou consideráveis mudanças na sociedade e o estágio do capitalismo, quando chegou, trouxe inúmeras vantagens. Havia um vasto progresso tecnológico e científico e, pela primeira vez na história humana, tornava-se teoricamente possível suprir as necessidades básicas de toda a população. A liberdade pessoal também havia sido grandemente aumentada e tornara-se possível ascender e descer na escala social, independentemente de condições de nascimento e herança. O surgimento do individualismo nas esferas social e cultural deu-se paralelamente ao do individualismo na empresa privada e na econômica, destituindo dos homens qualquer sentido de colaboração de uns para com os outros.
Uma elevação gradual de nível de vida em face de novas e expansivas demandas e novos meios de satisfazê-las levaram, finalmente, ao término da fase Eotécnica, uma das fases denominadas por Lewin Munford. O incremento da riqueza levou à desintegração as idéias de “justo preço” e justiça social, como eram antes definidas, e as associações faliram à medida que se tornou necessário maior acúmulo de capital para aperfeiçoamento da maquinaria e dos equipamentos. Se as deficiências da fase Eotécnica se situam na sua rigidez e falta de iniciativa, as deficiências da fase Paleotécnica devem ser procuradas no fato de que as relações naturais de afeições e amizade entre os homens haviam sido arranhadas. “Em contraste com o sistema feudal da idade Média, no qual cada indivíduo tinha seu lugar fixo num sistema ordenado e transparente, a economia capitalista deixava o indivíduo entregue a si mesmo.” (Brown, 1976, p.32)
É com a invenção e proliferação das máquinas, particularmente durante a Revolução Industrial na Europa e América do Norte, que os conceitos de organização se tornam mecanizados. O uso das máquinas, especialmente na indústria, favoreceu a adaptação das organizações às novas exigências da era mecanicista.
Caso se examinem as mudanças pelas quais passaram as organizações na Revolução Industrial, descobre-se crescente tendência no sentido da burocratização e rotinização da vida em geral. Muitos grupos de famílias que trabalhavam por conta própria e artesãos habilitados abandonaram a autonomia de trabalhar nas suas casas e oficinas para trabalhar em atividades que exigiam relativamente pouca habilidade, em ambientes fabris. Ao mesmo tempo, os donos das fábricas e os seus engenheiros perceberam que a operação eficiente das suas novas máquinas, em última análise, requeria grandes mudanças no planejamento e controle do trabalho. A divisão do trabalho privilegiada pelo economista escocês Adam Smith, no seu livro A riqueza das nações (1776), tornou-se intensa e crescentemente especializada, à medida que os fabricantes procuravam aumentar a eficiência, reduzindo a liberdade de ação dos trabalhadores em favor do controle exercido por suas máquinas e supervisores. Novos procedimentos e técnicas foram também introduzidos para disciplinar os trabalhadores para aceitarem a nova e rigorosa rotina de produção na fabrica (Morgan,1996).
Uma grande contribuição na fase Neotécnica ou Moderna foi feita pelo grupo de teóricos e profissionais em administração da América do Norte e da Europa que estabeleceu as bases daquilo que é agora conhecido como “a teoria da administração clássica” e “administração científica”. Grande parte desta mudança na realização do trabalho, foi analisado por Frederick Winslow Taylor (1856-1915) “O Pai da Organização Científica do Trabalho”, que inicia os estudos da eficiência industrial, contribuindo de forma bastante eficaz para o desenvolvimento industrial do Século XX. Conhecemos por Taylorismo o sistema de organização de trabalho proposto por Taylor que se baseia em uma questão bem simples: “Qual a melhor forma de fazer um determinado trabalho?”. Foi em busca de respostas para esta questão que surgiram os métodos adequados para realizar e ensinar as condições para desenvolver a tarefa.
Taylor defendia cinco princípios básicos que podem ser condensados como se segue (apud Morgan, 2000,p.32):
1.      Transfira toda a responsabilidade da organização do trabalho do trabalhador para o gerente; os gerentes devem pensar a respeito de tudo o que se relaciona com o planejamento e a organização do trabalho, deixando aos trabalhadores a tarefa de implementar isso na prática.
2.      Use métodos científicos para determinar a forma mais eficiente de fazer o trabalho; planeje a tarefa do trabalhador de maneira correta, especificando com precisão a forma pela qual o trabalho deva ser feito.
3.      Selecione a melhor pessoa para desempenhar o cargo, assim especificado.
4.      Treine o trabalhador para fazer o trabalho eficientemente.      
5.      Fiscalize o desempenho do trabalhador para assegurar que os procedimentos apropriados de trabalho sejam seguidos e que os resultados adequados sejam atingidos.
Podemos ver agora mais claramente, as origens históricas de muitos dos problemas modernos. Para expulsar a afetividade do trabalhador, a sociedade começa a ter uma estrutura definida com idéia de privacidade (personalização da casa burguesa), restringindo o afeto às relações familiares e destituindo-o do ambiente de trabalho. Foi a forma de transformar o trabalho em mercadoria que ocasionou tal ruptura e talvez devido a ela, atualmente, observamos uma série de estratégias defensivas sendo postas em prática pelos trabalhadores, para conseguirem melhor sobrevivência em relação às exigências impostas pelo ambiente de trabalho.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as etapas históricas definidas pelos autores e seus impactos na relação do indivíduo com o trabalho.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre as fases históricas: Feudalismo, Revolução Industrial, Moderna e Pós-moderna.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Desde os preceitos de Adam Smith até o surgimento da Escola de Administração Clássica, o mundo do trabalho consolidou a idéia da divisão do trabalho como elemento de fundamental importância no aumento da produtividade de indivíduos. Em razão disso, aponte a afirmação correta:
a)      A divisão do trabalho permite uma eficiente especialização de tarefas, garantindo ao trabalhador uma melhor adequação ao cargo e ao conteúdo do trabalho.
b)      O sistema de produção em massa permite que o trabalhador conheça todo o processo produtivo.
c)      O Princípio da Produtividade – proposto por Ford – alimenta no trabalhador o desejo de se superar a todo instante, o que representará melhoria no processo produtivo.
d)    A alienação do trabalhador é um elemento a ser considerado, uma vez que – ao executar uma pequena parte do processo produtivo – o indivíduo acaba perdendo o domínio sobre o mesmo.
e)    Os ideais do Taylorismo sugerem uma "melhor maneira” de se realizar o trabalho, cabendo ao trabalhador a escolha de acordo com suas habilidades físicas/intelectuais.
Se você compreendeu adequadamente a proposta da Divisão do Trabalho identificada após a Revolução Industrial, assinalou a alternativa d. As afirmações a-b-c-e partem do princípio de que o indivíduo tem maior conhecimento do processo produtivo ou que tenha participação ativa ou escolha no processo como um todo. O trabalhador ficou sujeito ao processo produtivo determinado externamente, bem como direcionado a exercer uma tarefa específica, perdendo então seu contato com os meios de produção e com o produto final.
Mudanças atuais na relação homem-trabalho.
Leitura Obrigatória:
ZAVATTARO, H. A. Retrospecto histórico da relação do homem com o trabalho. São Paulo, UNIP, 2003. 46 p. (Coleção Cadernos de Estudos e Pesquisas – UNIP: série didática, v.9, n.2-001/03).
Leitura para Aprofundamento: 
MALVEZZI, S. Psicologia Organizacional - da Administração científica à globalização: uma história de desafios. São Paulo: USP, 2000.
SPINK, P.K. A Organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia do trabalho. Psicologia e sociedade. 8(1): 174-192, jan/jun, 1996.
Historicamente, as relações de trabalho foram se tornando cada vez mais mecânicas e impessoais, exigindo o aperfeiçoamento para aumentar a produção e evitar problemas. Diante de tal quadro de mudanças, alguns aspectos parecem ser essenciais ao entendimento da complexa relação homem-trabalho na era da "pós-modernidade". Hoje a empresa precisa de resultados e só se envolve com isso, considerando que o risco faz parte do negócio.           
Percebe-se que os problemas de crescimento organizacional têm tido estreita ligação com os problemas de adaptação e gerência de mudança. A mudança tecnológica que se processa com rapidez incrível, cria constantes problemas de obsolescência, e as mudanças sociais e políticas criam uma constante demanda de novos serviços e expansão dos serviços já existentes. Frente à imprevisibilidade das transformações no mundo do trabalho, as organizações têm necessitado desenvolver flexibilidade e capacidade de enfrentar uma série de problemas novos e, como sabemos, essas características residem em última análise nos recursos humanos das organizações. Observa-se a crescente preocupação atual com a descentralização de poder; terceirização de serviços; necessidade de envolvimento do trabalhador nas atividades e com o trabalho em equipe.
Diante dessa situação de impossibilidade de previsão do futuro, o que os indivíduos sentem passa a ser a ansiedade frente à sua própria perspectiva de desenvolvimento pessoal, profissional, de carreira e até de permanência no emprego. A busca pelo resultado e a evidência do autocontrole (ou controle interno ) do homem no trabalho, pode, de um lado, fazer com que o trabalho volte a ser criativo, pelo resgate da autonomia na relação do homem com o trabalho, e de outro, aumentar a ansiedade e o stress do trabalhador frente ao grau de auto-exigência e de competitividade existentes.
Ao analisarmos o trabalho diário, principalmente no que tange ao exercício de funções administrativas, o trabalhador lida com o compromisso do acerto e, por outro lado, com a tensão e a possibilidade do erro. Quais sentimentos de temor são mobilizados diante do receio de fracassar? Será que todos suportam - mantendo seu equilíbrio psíquico e psicossomático - o desafio de ser "excelente" ou de cair na situação de “funcionário descartável”? O acúmulo de responsabilidades e o medo de errar podem, então, gerar bloqueios internos, reduzindo no indivíduo a capacidade de expressão espontânea. A empresa espera do profissional a perfeição, e o indivíduo sobrecarrega-se para responder da melhor forma possível às solicitações. Além disso, a exigência do mercado pela competência e o desenvolvimento do controle interno do trabalhador, repercutem em um clima de grande tensão nas relações de trabalho e na relação do homem com o trabalho. As exigências de polivalência no trabalho podem prejudicar aqueles que possuem projetos de desenvolvimento pessoal e profissional, nos quais a especialização aparece como grande expectativa. Além disso, a polivalência, em certas empresas, pode significar um anteparo limitado aos interesses do mercado interno à própria organização, onde o indivíduo pode estar pronto para assumir bem diferentes funções, do modo como são detalhadas especificamente no interior de determinada organização. Isto pode criar um sentimento de dependência em relação à empresa, ao mesmo tempo que gera enorme insegurança frente o fantasma do desemprego.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os aspectos apontados quanto às mudanças relacionadas a Pós-modernidade e as conseqüências para o comportamento social e do indivíduo com seu trabalho.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
O impacto das novas tecnologias de informação têm-se refletido nos novos modelos de gestão  e nos recursos humanos das organizações. Percebe-se que as organizações têm buscado maior competitividade no mercado investindo em novas tecnologias em uma velocidade crescente, bem como novos modelos de gestão, principalmente que contemplem a participação dos trabalhadores nas decisões, têm composto este ambiente. Ainda, isto tem causado nas pessoas, especialmente nos trabalhadores, algumas transformações. Diante deste quadro, indique a alternativa INCORRETA:
a) A tecnologia agiliza a tomada de decisão e pode tornar mais confiáveis os dados e as informações.
b) A organização atual está buscando desenvolver maior aprendizagem frente ao avanço tecnológico.
c) As organizações têm privilegiado menos a descentralização, buscando maior controle sobre seus processos, através da centralização do poder.
d)  Atualmente há maior busca pela qualidade dos produtos e serviços.
e) O processo decisório flui mais efetivamente e o processo comunicativo ganha em celeridade e qualidade.
A leitura do texto deve ter lhe auxiliado a responder tal questão. Se você compreendeu adequadamente as mudanças organizacionais presentes,  assinalou a alternativa c. As afirmações a-b-d-e partem do princípio de que a o processo tecnológico e a informação têm avançado e as organizações buscam acompanhar tal demanda para sua sobrevivência no mercado atual e futuro. A questão c está incorreta, pois o processo de descentralização permite que as informações e as conseqüentes decisões ganhem maior velocidade.

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